Planta do mês
26/10/2015
Iremos publicar, mensalmente, um artigo com foco em uma espécie de planta que esteja presente na vegetação da Bacia do Rio Araguari e região. O nosso objetivo é fornecer informações atualizadas sobre as nossas plantas nativas, de modo a torna-las mais conhecidas, compreendidas e com mais chances de serem preservadas. Com essa novidade, nossos canais de comunicação passam a contar com uma nova seção, denominada “Planta do Mês”, que está sendo iniciada com um artigo sobre o piquizeiro, uma das espécies arbóreas de maior destaque no bioma Cerrado. Aguardamos críticas acerca dos artigos e sugestões de espécies para serem abordadas nos próximos meses.
Piquizeiro
O piquizeiro (ou pequizeiro) é uma espécie arbórea caducifólia, monoica, que pertence ao gênero Caryocar, da família Caryocaraceae. Esse gênero possui 12 espécies no Brasil, das quais somente três ocorrem na área de abrangência do Cerrado e apenas uma – Caryocar brasiliense – é encontrada em Minas Gerais.
O nome piquizeiro significa árvore que dá piqui e este outro é uma junção das palavras indígenas py (espinho) e qui (fruto) que alude à existência de espinhos nos caroços dos frutos dos piquizeiros. Os vocábulos pequizeiro e pequi são variações modernas desses dois nomes.
O piquizeiro é uma das espécies arbóreas mais dispersas, frequentes e populares do bioma Cerrado. Ele ocorre em cerrados e cerradões, em uma ampla variedade de solos e relevo, e em muitos locais é a árvore que predomina. Mesmo no meio urbano é difícil encontrar quem não o conheça ou dele não tenha ouvido falar. Em algumas localidades ele é tratado como uma celebridade.
Os pequizeiros adultos podem medir mais de 10 m de altura, têm copa larga, galhos grossos e tronco curto (Figura 1), revestido por casca cinzenta, muito fissurada na superfície. As folhas são opostas e compostas por três folíolos grandes, pilosos, de margem serreada. As flores ocorrem em cachos, são amareladas, grandes, hermafroditas e têm como parte mais vistosa os estames (órgãos reprodutores masculinos), que são longos e numerosos, o que confere a elas uma aparência similar à de um pincel de barbear (Figura 2). Os frutos são subglobosos, com até 8 cm de centímetros e contêm de 1 a 4 caroços rijos, revestidos por espinhos curtos e pungentes, que, por sua vez, são recobertos por uma camada de polpa amarela ou alaranjada (Figura 3), aromática e oleosa, de um a vários milímetros de espessura. Cada caroço possui uma semente (ou amêndoa) alvacenta, também rica em óleo.
Figura 1 Figura 2 Figura 3
O piquizeiro perde as folhas na estação seca e floresce quando as folhas começam a ressurgir ou já se encontram bem desenvolvidas, o que no Triângulo Mineiro e região ocorre de setembro a novembro. Alguns indivíduos apresentam uma floração temporã, em março ou abril, que normalmente não resulta em formação de frutos.
As flores do piquizeiro ficam férteis no início da noite, quando os botões se abrem e passam a exalar um perfume discreto e agradável que atrai mariposas e morcegos consumidores de néctar; esses animais são considerados os mais efetivos polinizadores dessas flores e sem eles a produção de frutos é pequena. No dia seguinte, as flores são frequentadas por beija-flores e insetos, em busca do néctar remanescente.
O período floração-maturação de frutos no pequizeiro varia de 90 a 120 dias e, assim, é no período de janeiro a março que os piquis podem estar prontos para serem colhidos - época de piqui.
O piquizeiro desempenha papel de grande relevância no meio natural e constituem árvores de forte apelo visual, principalmente quando floridas. Contudo, a sua popularidade provém fundamentalmente dos caroços dos seus frutos, pelas seguintes razões: 1) quando ainda envoltos na polpa, são usados no preparo de dois dos mais tradicionais e apreciados pratos da culinária cerradense – o arroz com piqui e o frango com piqui – e para extração do afamado óleo de piqui, que também é usado em culinária e é utilizado como remédio; 2) a polpa, quando removida dos caroços, pode ser guardada na forma de conserva, tanto para uso culinário quanto para fabricar licor, aguardente, sorvete, picolé e cosméticos, algumas vezes em escala industrial; e 3) as suas sementes são comestíveis e o óleo que elas possuem é de múltiplas utilidades.
Estudos de laboratório levaram à constatação de que a polpa do piqui é rica em vitaminas A, C e E, bem como em carotenoides, ácidos graxos insaturados e fibras, sendo, portanto, de alto valor alimentar. Os antigos diziam que anos de boas safras de piqui resultavam em mais nascimentos de crianças, devido à sustância que a polpa dos caroços dava aos homens e mulheres na idade de procriar. Tudo isso contribuiu para que o piqui se tornasse cada vez mais desejado e consumido, e passasse a ser comercializado em pontos de venda espalhados por toda a sua região de ocorrência, inclusive nas Centrais de Abastecimento – CEASAs.
Praticamente todo o piqui consumido no Brasil é obtido por meio de uma atividade extrativista tipicamente predatória, que envolve habitantes do campo e da cidade. Esse quadro, e a intensificação dos desmatamentos no Cerrado, levaram o atual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA a editar, em 1987, uma portaria proibindo o corte de piquizeiros no território nacional.
Após isso, surgiram muitas iniciativas no sentido de melhor conhecer e preservar os piquizeiros, tanto no campo da pesquisa científica quanto no da mobilização social. Merecendo destaque a Festa Nacional do Pequi, que começou a ser realizada em 1990, na cidade de Montes Claros, com a finalidade de manter viva a tradição do consumo desse fruto e conseguir a adesão da população à tarefa de preservar essa espécie e a vegetação do Cerrado. Em 2001, em um concurso realizado pelo Instituto Estadual de Florestas – IEF, o piquizeiro foi eleito “Árvore Símbolo do Estado de Minas Gerais” em reconhecimento às suas qualidades, potencialidades e importância para o homem e os ecossistemas.
Já é bastante volumosa a quantidade de trabalhos científicos sobre o piquizeiro. Boa parte desses trabalhos teve como objetivo o desenvolvimento de métodos para fazer as sementes germinarem com rapidez e de modo uniforme, e para diminuir o tempo que as mudas levam para entrar em produção. Os resultados de alguns experimentos indicam que o dia que o piquizeiro se transformará em uma planta cultivada em escala comercial já está próximo, para satisfação dos consumidores e daqueles que acreditam no potencial econômico dessa espécie.
Por Benedito Alísio da Silva Pereira, cerradense@gmail.com.
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